quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Maracujá em pó e canja de galinha

As cenas da última rodada do Brasileirão, aquelas em que a torcida do Coritiba expôs toda a sua selvageira, a mesma torcida que nos recebeu muito bem no Couto Pereira, ainda estão impregnadas em nossas retinas. Convenhamos, foram cenas fortes, pesadas, absurdas, surrealistas. Patéticas, para dizer a verdade. Claro que a velha frase de que "não foram todos os torcedores", ou que "a maioria não corrobora aquilo" serão ditas à exaustão. E é verdade. Devemos ser honestos: o povo de Curitiba não merecia aquilo. Mas, foi no Estádio Couto Pereira, na casa do Coritiba e proporcionado por torcedores do Coritiba. Portanto, não dá para relevar.

O torcedor, este bicho parecido com um humano e apaixonado pelo seu clube, cuja razão é deixada em casa quando se dirige ao estádio assistir ao seu time jogar, perde-se no efeito manada, no efeito de maré. O torcedor não tem noção, é levado pelo momento. Segundos depois, quando a besteira estiver sido feita, já será tarde. A cadeira jogada no policial, a pedra arremessada no jogador, a paulada, o soco, o pontapé serão lamentados, mas ao final teremos a tragédia executada. Não dá pra voltar a fita!

Levanto este fato com uma preocupação. Neste ano a Ressacada viveu momentos de covardia e selvageira, mesmo com toda a campanha maravilhosa que fizemos. Um jogo ou outro foi mal deglutido. Evidentemente que passou muito longe daqueles fatos terríveis do Couto Pereira. Mas, num determinado momento, a paixão sobrepujou a razão. Por um determinado momento tivemos carros quebrados. Por um determinado momento tivemos muros pixados. Tivemos jogadores e funcionários assustados e com medo. "Título ou tiro no peito" foi uma das palavras de ordem gravadas. Alguns famosos que agora posam de bons moços levantaram a voz na Ressacada ameaçando a tudo e a todos. Só eu conheço pessoalmente uns dois deles.

Ainda que a nossa imprensa goste do negativismo, ainda que esteja sob investigação o que houve na Ressacada naqueles dias, ainda que haja algumas dúvidas quanto aos reais agressores, houve um evento. Que se analise tudo isto, que a lição seja aprendida e que alguns tomem pó de maracuja e um bom prato de canja de galinha no ano de 2010. Será um ano cheio. Para todos.